quarta-feira, 30 de julho de 2008

O MEU TRICICLO VERDE

Esta brincadeira trouxe-me à memória o MEU TRICICLO. Engraçado...já estava cá no fundo tão guardadinho!
Ganhei-o no Natal, tinha eu três anos e foi a prenda de Natal da empresa onde o meu pai trabalhava!
Estou a vê-lo! Era verde, tinha as rodas e o assento brancos e tinha uma campainha! A campainha para mal dos pecados dos outros, principalmente da minha mãe, ?
Naquela época não eram todos que tinha UM TRICICLO! Eu era uma priveligiada por ter um TRICICLO!...eu e o Zé Manel, o vizinho do 2ª andar, que também recebeu um pelos mesmos motivos!
Foi uma alegria, as nossas mães abriram uma excepção e deixaram-mos vir para o passeio ANDAR de TRICICLO. É que naquele tempo, fim da década de 60, em plenos estado novo, as crianças eram livres: uma criança de três anos podia andar de triciclo em plena rua livremente!
Foram dias de grandes corridas passeio acima, passeio abaixo, de grandes birras na hora de ir para casa, que eram ultrapassadas com a ameaça de no dia seguinte não irmos andar de TRICICLO!
Quando a chuva chegou, afinal era Dezembro, deixamos de poder ir andar de triciclo para o passeio. Andar na varanda já não tinha a mesma piada...até porque eu andava no 3º andar e o Zé Manel no 2ª...que piada tinha?
O triciclo foi arrumado no quartinho de arrumos À espera da Primavera.
A Primavera chegou e num dia em que fomos a casa da avó almoçar, levamos o MEU TRICICLO. "Que bom, a avó tem um pátio grande, vou poder andar muito!"
E andei a tarde toda, feliz da vida! É claro que os vasos das plantas e os canteiro se ressentiram da minha passagem, mas "Deixa a menina andar, há tanto tempo que não anda!", dizia o avô, com um sorriso nos lábios a contrastar com as palavras ríspidas da avo.
Assim foi, o MEU TRICICLO foi para casa da avó e nunca mais de lá voltou...A desculpa foi que ali tinha mais espaço e que sempre que para lá fosse podia andar..."o avô depois até vai passear contigo para o largo da capela", argumento da minha mãe!
Cedi, deixei o MEU TRICICLO!...também não era por eu ceder ou não, que ele lá ficava...estava decidido...era só uma questão de eu vir para casa a chorar o tempo todo ou não!
O tempo passou, sempre que íamos a casa da avó e eu pedia o MEU TRICICLO a resposta era: "Fica para a próxima, já vamos embora!".
O tempo foi passando, eu fui pedindo o triciclo com menos frequência. Também cresci, a desculpa passou a ser de que era muito crescida para o MEU TRICICLO e...esqueci!
Esqueci, até que um dia, tinha eu aí uns 15 anos, quando entro na casa da minha avó, vejo o MEU MEU TRICICLO!
-Oh, , olha o MEU TRICICLO!-disse eu toda feliz ao mesmo tempo que me via com 3 anos a andar de TRICICLO naquele pátio!
Tinha sido pintado...de azul!
-Pois é, estava no sótão. O Avô foi buscá-lo, lavou-o, pintou-o e agora o João anda com ele!
O João era um miúdo de 5 anos, filho de um rapaz que a minha avó acolhera depois de a minha mãe casar e a quem ele passou a tratar a minha avó por 'Mãe' e o meu avô por 'Tio'.
Que podia fazer? Vieram todas as emoções ao de cima: a esperança de recuperar o MEU TRICICLO, que já não era verde, perde-lo pela segunda vez! Foram...segundos, fracções de segundo de atribulação emocional!
-Olha o triciclo, ainda existe?-perguntou a minha mãe, que tinha ficado a estacionar o carro.
-Existe, mas a deu-o ao filho do Quim!
-Fez bem, tu já não queres isto para nada!
Eu é que sabia se queria ou não! Era o MEU TRICICLO! Quem decidia sobre o MEU TRICICLO era eu e mais ninguém!

Ainda o vi mais algumas vezes quando ia a casa da minha avó, até que deixou de andar por lá! Nunca perguntei à minha avó o que lhe aconteceu...preferi não saber...do MEU TRICICLO!

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