domingo, 18 de janeiro de 2009

A Surpresa

Naquele dia já era mais tarde que o habitual. No dia seguinte havia a visita de um cliente importante e Madalena ficara ultimar os preparativos.
Rafael já estava em casa há um bom par de horas e aguardava-a para jantarem juntos. Era sempre assim, quando um tinha de trabalhar até tarde, o outro ia buscar os miúdos, tratava deles, deitava-os e aguardava pelo outro para jantar. Funcionava como terapia entre o casal. Ambos tinham actividades profissionais que por vezes obrigavam a tal, pelo que ambas as partes aceitavam estas necessidades. Apesar de actividades muito diferentes, tinham por hábito falar sobre os acontecimentos do dia um com o outro, e então nestas situações era inevitável... a conversa iria por noite adentro com Ana a falar sobre os acontecimentos do dia e dos do dia seguinte... fazia-lhes bem, relaxava!
Como era hábito, entrou em casa, despiu o casaco, pendurou-o no armário e pousou as chaves no móvel da entrada, pegando de seguida no monte de cartas. Tudo rotina: leitura do remetente, do destinatário, passar da carta para o fim, ler a seguinte...enquanto sobe as escada em direcção ao quarto, passando antes pelo escritório para deixar as cartas já vistas.
-Banco para o Rafael, Electricidade. Banco para mim. Seguro, que chatice, este mês há seguros para pagar!
Quando passa para trás a carta da companhia de seguros, depara-se com uma carta sem remetente destinada a ela. Não era uma daquelas cartas do banco com extractos, pois era de um papel de qualidade superior em branco marfim. Parou junto à secretária, pousou as outras cartas, sentou-se na cadeira e com o corta papéis abriu a carta, enquanto era invadida por um turbilhão de sensações: medo, curiosidade, ânsia...
Abre a carta e lê:

Trofa, 13 de Dezembro de 2009

Querida Madalena,

Provavelmente já não te recordas de mim, até porque eu para ti sempre fui pessoa non grata! Tu para mim, pelo contrário sempre foste muito importante. Foste e serás a mulher da minha vida.
Tu não sabes, mas sempre soube de todos os teus passos desde então.
Sei que casaste, que tens filhos, sei tudo, tudo da tua vida.
Um dia disse-te que haverias de ter notícias minhas. Pois vais tê-las e muito brevemente. Vais ter uma grande surpresa
.

Com amor, daquele que te amará para sempre,
Pedro Goulart


-Madalena, já posso servir o jantar? Já tomaste banho?
-Não, ainda não, mas está quase.-Respondeu ela enquanto se dirigia para o quarto e dobrava a carta.
Meteu-a no meio do livro que tinha em cima da mesinha, dirigiu-se para a casa de banho e meteu-se no duche.
Pedro Goulart era aquele rapaz que vivia na Trofa e vinha todos os dias de comboio para as aulas. Já não se lembrava dele! Pessoa desinteressante, mas estranho. Não falava com ninguém, ninguém falava com ele... seguia-a que nem uma sombra pelo liceu. Sempre a oferecer ajuda nos trabalhos, nas matérias, mas só a ela...
Era um rapaz não muito alto, usava uns óculos de massa, grandes, cabelo encaracolado e tinha uns dentes grandes. Sim, lembrava-se agora, que ele tinha uns dentes enormes... os colegas até lhe chamavam de Conde Drádula... pelos dentes e pela sua forma de estar!
Lembrava-se agora que ele lhe dizia muitas vezes: Úm dia ainda vais ter notícias minhas e vais ter uma grande surpresa!'
Porque carga de água estava ele agora a fazer isto? Será que é verdade que me andou a seguir estes anos todos?-perguntava-se-Não pode ser, eu tinha de ter notado e onde ia ele arranjar forma de o fazer? Tinha de contratar um detective e, ele nem tinha onde cair de morto!
-Então Mada, já posso tirar o jantar?
A chamada de Rafael trouxe-a ao presente.
-Sim podes, estou a sair do banho.
Saiu do banho, secou-se, passou creme pelo corpo, vestiu uma roupa confortável, passou no quarto das crianças para ver como estavam e desceu para jantar.
Ao contrário do que era habitual, pouco falou, para admiração de Rafael que lhe ia sacando a ferros as poucas palavras que disse durante o jantar.
Não lhe saia do pensamento a carta, o Pedro. Porquê? Que lhe deu? Será que estava louco, que andava a ser seguida por um louco?
-Então está tudo pronto para amanhã?-Perguntou Rafael, lá longe...
-Desculpa, que disseste?
-Se estava tudo pronto para amanhã!
-Sim, está. Está sim, como o costume... vou-me deitar, estou exausta.
-Mas quase nem comeste!
-Estou indisposta. Deve ser do peixe do almoço!
Levantou-se , subiu as escadas, voltou a passar pelo quarto das crianças e deitou-se. Rafael veio logo de seguida, mas ela fez que já dormia quando ele se deitou. Não lhe apetecia falar, a carta não lhe saia do pensamento. Será que devia ir à polícia, mas antes teria de contar a Rafael. Nunca lhe falara daquela personagem... também não tinha tido importância nenhuma na vida dela... ele até o reconhecia na carta! Não fosse a carta e era pessoa de quem, concerteza, nunca mais na vida se iria recordar!
Bom, agora era mesmo melhor dormir. O dia seguinte era importante demais e precisava de estar em forma!
Quando acordou no dia seguinte, o seu primeiro pensamento foi para a carta. Ficou nervosa, desorientada. ´Não pode ser. Tenho de me controlar'-pensava.
Arranjou-se, passou pela cozinha, tomou uma caneca de chá, despediu-se de Rafael e das crianças e saiu.
Quando chegou à empresa, pousou as suas coisas na sua secretária e dirigiu-se para o edifício da gerência para fazer uma ultima revisão. As visitas chegariam dentro de dez minutos.
Lembrou-se então que se esquecera de imprimir a agenda da visita. Passou pela secretária da administração para lhe pedir uma cópia e saber se havia alguma alteração de última hora.
-Nada de especial Dra Madalena, só o Sr Wolf, o director técnico que não pode vir, mas vem outro senhor em substituição, é o director de produção da empresa... engraçado, tem um nome português, mas o apelido é francês! Chama-se Pedro Goulart.
-Como disse? Pedro quê?-perguntou Madalena, se querer acreditar no que estava a ouvir.
-Pedro Goulart...
Naquele momento ficou sem pinta de sangue. Ele ia realmente aparecer.
As palavras: 'Um dia vais ter notícias minhas e vais ter uma grande surpresa'.

2 comentários:

Anuska disse...

Olá! Quem é que escreveu este texto? E como é que acaba? Agora fiquei curiosa!

Reflexos disse...

Olá,

Fui eu quem escreveu este texto. Foi para a Fábrica de histórias.
O resto está para breve...