sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O Casamento


Um dia lembrou-se que não queria trabalhar mais naquele sítio. Concorreu para o ensino, foi colocada e despediu-se do emprego na multinacional.
Continuou a frequentar a casa dos amigos que fez e um dia, no casamento de um outro, apareceu com o namorado.
Até hoje não lhe conheço a voz, nem a cor dos olhos. Não falava e andava sempre a olhar para o chão, como se algo procurasse...
Nesse mesmo dia, num dia de Junho, trazia-nos convites de casamento, para o dela, aliás, o deles.
Tinham-se conhecido na passagem de ano, marcado o casamento quinze dias depois e a data marcada era Setembro.
Passou Junho, Julho. Falamos em Agosto. Tudo pronto. A quinta marcada, a decoração da igreja decidida, ao vestido faltava a última prova... seria na semana anterior ao casamento.
Nos primeiros dias de Setembro toca o telefone. A voz não era a de quem estava a quinze dias de casar, a de quem andava entusiasmada com os últimos preparativos, nem a de quem estava ansiosa por ver o vestido de noiva pronto.

Pois não, porque o telefonema era para dizer que já não ia haver casamento. Que tinham falado e resolvido não casar. Tinham pensado, ponderado e tinham decidido que não era a melhor altura para casar. Que em vez de estarem felizes, estavam deprimidos, que o Paulo, o noivo, tinha tido uma recaída! Recaída? Sim, o Paulo era propenso a depressões e já tinha tido 'algumas', disse ela. Não estava a aguentar a pressão do casamento e estava mal! Do lado de cá, ficou-se sem saber o que dizer. Ficamos por um: 'E tu estás bem? ‘. A resposta foi um 'Sim' de quem não quer deixar os amigos preocupados.

Desligamos, olhamos uns para os outros. Por coincidência, ou não, estávamos um grupo de amigos, que naquele dia resolveram ir até Ílhavo visitar o museu da Vista Alegre. A notícia pouco ou nada surpreendeu. Sentiu-se como que um respirar colectivo de alívio.
Não admirou. Não admirou a reacção, não admirou que acabasse antes de começar.
Um de nós, mais corajoso, disse: 'Ainda bem!'. Os outros acenaram com a cabeça, em concordância. 'Ainda bem que foi antes!', disse ainda um outro. Mais um acenar colectivo...

Em Novembro houve magusto em casa do Nossamigo. Foi convidada. Apareceu acompanhada. 'Este é o Gabriel', apresentou-o assim. Estavam de mão dada. Novo namorado. Tinha esquecido o Paulo. Ainda bem, mais uma vez. É que o Paulo era uma pessoa realmente pouco sociável e o casamento nunca iria resultar. O mais parecido com aquele homem, que um dia num casamento, onde o conhecemos, fugiu para o cemitério e andou a fotografar campas, eram o Olharapos da Expo 98, lembram-se?

O Gabriel não era assim. era simpático, extrovertido e alinhou nas maluqueiras d grupo. Gostamos dele, aprovamos, ficamos felizes por ela.

Passaram-se dois, três anos e há umas semanas novo telefonema. 'Vou casar', disse ela. Senti algum cepticismo, confesso. Adiei a máximo a compra da roupa, mesmo sabendo que foi uma decisão tomada com mais tempo, que o Gabriel não tinha nada a ver com o Paulo e que por isso a probabilidade de se repetir o 'não casamento' era pequena.
Comprei a roupa na semana passada. Ontem a gravata para o L.. Sim porque para os homens basta a gravata para marcar a diferença! E o casamento é amanhã e desta vez vai haver casamento. Melhor dizendo, nada em contrário ainda foi dito!
Por isso amanhã há casamento.



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