domingo, 14 de junho de 2009

Dar Sangue é dar Vida


Este post foi escrito num outro blogue, O 'Espelho Meu' em Julho de 2008. Hoje, publico-o enquadrado no Dia Mundial do Dador de Sangue.
Entretanto ganhei coragem, mas não posso ser dadora... tenho 'um feitio' no meu sangue que não responde aos requisitos necessários para poder ser dadora.



A Propósito de uma Campanha que vi em outdoors de colheita de dávidas de Sangue nos próximos dias.
A propósito disso, também não encontro essa campanha no site do Instituto Português do Sangue!
Lembrei-me de muita coisa. Lembrei-me de duas idas por anos ao, então, Centro de sangue do Hospital de Santo António no Porto, com o meu pai para ele fazer a colheita da sua dávida!
Era nas traseiras do Hospital de Santo António, pegado à casa mortuária, numas instalações minúsculas! Era uma salinha escura, sem janelas com meia dúzia de cadeira, um balcão de atendimento e um bar. Sim, porque no fim da dávida os doadores tinham direito a um lanche..à escolha dentro do que havia: uma sandes, um pastel ou um lanche e uma bebida. O meu pai normalmente bebia um sumo e comia um lanche. É que ninguém podia vir embora sem comer algo! Eu não gostava de lanches, ainda hoje não sou grande apreciadora, mas daqueles gostava..que bem me sabiam aqueles lanches...que manjar! Aquelas idas ao HGSA eram mágicas!
Para mim aquilo era algo de muito importante! O meu pai naqueles dias tinha ainda mais valor que nos restantes dias!
-O meu pai foi dar sangue e, eu fui com ele!-dizia eu toda orgulhosa a quem quisesse ouvir!
-O meu pai é dador de Sangue!, dizia eu sempre que queria enaltecer o meu pai!

Quando descobri que havia pessoas que vendiam sangue, perguntei ao meu pai porquê. Respondeu-me que era porque precisavam do dinheiro, eram pessoas com necessidades e era uma forma de ter mais algum!
E realmente a partir daí passei a observar as pessoas e a ler nos olhos delas a intenção com que elas iam ali! Os dadores com uma entrega total, um sorriso, simpatia...os outros com semblante fechado, sem expressão, cheios de pressa à espera do lanche e a confirmação vinha quando eles reclamavam da qualidade do lanche que era servido!
-Se tem algum jeito, vem uma pessoa aqui, tirar sangue ( não era dar, era tirar), fica fraca e dão-nos esta miséria!

Um dia resolveram atribuir medalhas aos dadores:
-O meu pai tem Medalha de Cobre de dador de Sangue!
-O meu pai já tem Medalha de Prata de Dador de Sangue!
-O Meu pai tem Medalha de Ouro!
Que orgulho! E esse orgulho foi-me incutido pelo meu pai ao longo dos seus gestos, da forma como ele levava esse gesto tão a sério!

Não sei explicar bem, mas estas minhas exibições eram só mesmo orgulho, orgulho por o meu pai contribuir para aquelas pessoas acidentadas que precisavam de sangue, para as pessoas doentes...sim por mais que uma vez vi o meu pai a reunir pessoas para irem com ele dar sangue porque alguém precisava de uma transfusão urgente!
O orgulho com que ele exibia o cartão de 'isento' nas entradas dos hospitais, porque era dador de Sangue! é indescritível...não era porque poupava dinheiro ou porque, naquele tempo se entrava nas visitas do hospital a qualquer hora...era porque estava a ajudar!
Aí sim, o meu orgulho atingia os limites!
O meu pai começou a dar sangue muito novo. Quando foi para África em 1961 já era dador e, estava de tal modo habituado às dávidas semestrais que em plena campanha militar o médico do regimento teve de lhe tirar sangue e deitar fora, pois não tinha como o acondicionar, mas o meu pai estava a entrara em sofrimento!
Eu adorava contar esta história!
O meu pai agora já não dá sangue... atingiu o limite de idade... acho que esse foi o único, ou pelo menos das poucas coisas, que o deixarem triste por ter chegado aos 60 anos!

Agora, assim como contava estes feitos do meu pai, digo com muita tristeza que não tenho a coragem dele! Gostava, sim gostava muito, de doar Sangue, mas não tenho a força dele! É que para além da força é preciso um sentimento de entrega que eu não consigo ter!

Pai, se eu tivesse de ter escolhido um pai, escolhia-te a ti sem hesitar! Por isto e por muiiiito mais!

2 comentários:

blogando-me1 disse...

Dar sangue é dar vida, infelizmente por causa dos problemas de saúde que tenho não posso ser dadora, o que muito me entristece. É muito linda a homenagem que fazes ao teu pai e o orgulho que tens nele. Parabéns.
Passei para te deixar um beijinho cheio de carinho e desejar uma boa semana.

Bjs fofos

Reflexos disse...

Obrigada.
Tudo de bompara ti também.

BJinhos