domingo, 9 de agosto de 2015

Não há dia em que não me lembre de ti. Dos bons momentos que passei contigo, dos (grandes) ensinamentos que me deste da forma mais simples.
As nossas tardes no rio, as nossa tardes nas compras, ou simplesmente as noites, de quinta feira, a noite de passa a ferro e ver tourada.
Sim, quinta-feira era dia de tourada na 1. E tu gostavas de ver enquanto passavas a ferro.
No fim, se a roupa acabava antes da tourada, sentavas-te a meu lado a pontear as meias do avô. O Avô que entretanto tinha ido para o largo da capela dar dois dedos de conversa com o Sr. Zé, enquanto fumava o seu cigarro.
Às vezes eu ia com ele. Gostava da brincadeira com os outros meninos no largo da capela. Gostava das correrias à volta da capela. de jogar às escondidas, ou simplesmente, sentar-me ao lado do avô. Nos dias em que o Sr. Zé não aparecia, sentava-me ao lado do avô a ver as estrelas. Foi com ele que aprendi a encontrar a estrela polar e a identificar a cassiopeia.
Outras vezes falávamos de outras coisas. De geografia. Ilhas, peninsulas, istmos, cabos, continentes, polos... coisas tão simples, mas que me faziam sentir tão culta, tão conhecedora... e tão orgulhosa no meu avô!
E era a novidade que dava aos meus pais quando eles me iam buscar. Enquanto a minha mãe tentava saber o que tinha feito e o que tinha comido, eu debitava 'tão grandes conhecimento'.
Dos momentos da minha vida em que me senti mais orgulhosa de mim, foi num daqueles fins-de-semana, em que visitávamos os avós, andava já eu na escola e, como sempre o avô perguntava-me o que havia aprendido.
Havia sido a semana das unidades de peso: o quilograma, a grama... e toda contente, sentindo-me dona de uma grande sabedoria, digo ao avô: sabe que um litro de água pesa um quilo?
'Ai sim?', pergunta o avô-então diz-me então: 'que pesa mais, um quilo de chumbo ou um quilo de algodão''
A resposta foi quase imediata, e com uma confiança que poucas vezes me lembro de ter tido: +o mesmo! (expressão à Sherlock Holmes, tipo 'elementar, meu caro Watson?).
O Avô riu-se e passou-me a mão pela cabeça. Senti-me enorme, digna de ser sua neta! Ser neta de homem tão sabedor como o meu avô!
Para ti, estas coisas não eram importantes. Chumbo, algodão... quilos, gramas... só mesmo para fazer as contas em conjunto com a peixeira, que se 'enganava muito nas contas'... sempre para mais.
E aqueles dias em que acordava, já não estavas ao meu lado na cama. Deixavas-me dormir. Do quarto perguntava-te as horas. Davas sempre mais dez ou quinze minutos ( a mãe aprendeu bem contigo a lição). E o cheiro da cevada a entrar pelo quarto adentro! Só uma coisa nunca consegui: molhar o pão na cevada! Nunca me convenceste! Pão de um lado, cevada do outro.

Ai, tão boa esta nossa vida. Tão intensa!

Nota: eu sei que kilograma não é unidade... aprendi nesse dia!

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