quinta-feira, 29 de maio de 2008

A Pressa do Tempo

Tinha eu 4 anos e brincava com as minhas amigas gémeas na cozinha de lá de casa.
A minha mãe bordava junto a nós e a conversa era sobre: ... quando eu for grande…
A Paula dizia:
-Quem me dera ter já 18 anos!
A Bela:
-E eu queria ser grande, ser uma senhora e ter um marido e filhos!
Eu não disse, mas pensei: Eu quero ser sempre assim, ter 4 anos e brincar, brincar….
E sem darmos conta, já passaram tantos quatros, meu Deus!
Ó Sr. Tempo, porque insistes em andar tão rápido? Qual é a tua pressa? Para onde vais? Para onde nos levas?

O tempo da Paula andou mais depressa que o meu e o da Bela… há alguns anos que o tempo da Paula já parou! Infelizmente parou na casa 25!

domingo, 25 de maio de 2008

Olá Amiga, Até já Amiga!

Penso quase todos os dias em ti!
És a prova de que tudo na vida muda num piscar de olhos e nem sempre para melhor!
Em menos de um ano casaste, engravidaste, adoeceste e... morreste.
Tu com aquela tua vida tão única, tão independente, tão segura... e esse teu nariz empinado!
Era só aparato, afinal eras insegura, carente e ingénua, muito ingénua!
Quando te conheci, pensei de ti tudo que todos pensavam... convencida, nariz empinado...
Tivemos algumas divergências, como quase todos tiveram. Não eras uma pessoas fácil... todos o dizem! A tua ausência não muda a verdade nem o passado, não é? Tu que também eras uma defensora da verdade e da justiça, a tua verdade, a tua justiça, tal como cada um de nós tem as suas... mas que eram valores que tu muito defendias e tinhas sempre presentes, eram!
Não foi justo o que te aconteceu... ainda me lembro daquele dia em que tu, depois de uma ausência devido a uma gripe forte, eu te perguntar se estavas melhor, com um brilhozinho nos olhos e desvalorizando a minha pergunta disseste:
Estou, obrigada, mas tu não sabes da novidade, estou grávida! A felicidade transbordava, mas alguma preocupação também... mal sabias tu, e nós, o que te esperava para tão breve!
A tua preocupação estava relacionada com o facto de ser uma gravidez não planeada para aquela altura ( tu e o planeamento!), não tiveste tempo de tomar certas providências... como deixar de fumar!
Disseste-me, então:
-Sabes, estou contente, mas preocupada, pois por causa da gripe estive a tomar antibióticos sem sabe que estava grávida. Eu não estava a contar engravida tão depressa, já tenho uma certa idade (frase típica tua...só tinhas 36 anos), também sou fumadora, mas pronto agora está, é esperar.
Uns dias mais tarde, passei por ti e, quando te perguntei se estava tudo bem, perguntaste-me tu -Ainda não sabes da novidade?
-Não, respondi.
-São gémeos, disseste tu,
-Que fixe!-foi a minha reacção
-Que fixe o caraças!...tudo a dobrar!...
Foi da boca para fora. A felicidade era ainda maior...
Foste uma grávida exemplar...deixaste de fumar...tudo que fizeste a partir daí foi a pensar nos teus bebés. Seguiste uma alimentação saudável, tornaste-te uma pessoa regrada, tu que não tinhas horários para ti, só para o trabalho!
Eles nasceram... no São João... altura em que tu também fazes anos.. .o João Pedro e a Ana Sofia...nunca os vi...
Em Agosto desse ano, uma colega disse-me que estavas no hospital pois tinham-te aparecido ´'uns papos' debaixo dos baços e os médicos desconfiavam do pior. Fiquei preocupada...nunca deixei de pensar em ti.
As coisa evoluíram de uma forma galopante e da pior maneira...o baço inchou, foste operada. Fui tendo sempre notícias tuas, mas à distância. Não porque me quisesse afastar, mas porque sabia que prezavas a tua privacidade e era assim que te sentias melhor.
Um dia, por acaso, encontramo-nos numa pastelaria perto de minha casa. Tu é que me viste e me chamaste. Lanchavas com o Pedro, o teu marido. Fiquei feliz, muito feliz por te ver e triste porque vi uma mulher transformada pela doença. Inchada, sem cabelo e percebi de mais perto que, como muitas vezes ouço a minha avó dizer, não somos ninguém... no que nos transformamos em tão pouco tempo!
Estive um bocadinho contigo.... a nossa conversa foi ... foi... tu falaste do que quiseste e eu respondi-te como pude... da forma mais leve possível e sincera...
-Nem te estava a conhece... também não contava encontra-te por aqui.-disse eu quando a vi.
-Pois estou toda inchada, é dos tratamento, disseste logo de rajada-também já não tenho cabelo, isto é uma peruca, mas é foleira...vou compra uma de cabelos naturais.
-E, então estás melhor?-perguntei.
- Estou, saí agora do hospital, estava com saudades destas torradas e, como não sei quando volto a sair de casa, pedi ao Pedro para vir aqui lanchar.
-Fizeste bem. E os gémeos?
-Estão com a minha irmã, ela vai levá-los lá a casa daqui a pouco.
-E tu, como te sentes?- perguntei.
-Bem, estou toda inchada, olha para a minha barriga, parece que ainda estou grávida.
-Mas tiveste os bebés só há dois meses e fizeste cesariana... é normal!
-Pois é, é normal... não é normal é o que me está a acontecer!
-Mas tu agora saíste do hospital e vais lá só fazer quimio...vais fazer transplante, vais precisar de dador de medula?-perguntei eu já a pensar como ia ser...
-Ainda não sei, mas tenho uma vantagem... a minha medula está saudável e assim posso fazer auto-transplante e não preciso de andar atrás de um dador.
-Isso é óptimo!
Falamos depois da empresa, aliás, fui respondendo às perguntas normais de alguém que está ausente há alguns meses e tem curiosidade sobre os acontecimentos e as pessoas... até que tu me arrumaste completamente com a afirmação:
-Eu já não volto mais para lá... se me safar desta, vou trabalhar na empresa que montei... se morre é não vou mesmo...
Foi assim, nu e crú... e com tanta certeza que, só pude, aliás só saiu...
-Não penses assim... daqui a uns meses vamos estar a fala outra vez...
É a última coisa que me lembro de te ter dito nesse dia... eu queria acreditar no que estava a dizer... voltei a ver-te... semanas mais tarde no mesmo sitio, por acaso, também...
Era Fevereiro, um daqueles meses de Fevereiro de muito frio e de muitas gripes... nessa altura estavas mesmo irreconhecível! Tinhas 'lutado' até ao último minuto com os teu marcadores para que eles te permitissem sair do hospital. Já tinhas a tua peruca de cabelos naturais, facto que tu fizeste questão de evidenciar... também já tinhas feito outra operação...para tirar parte do estômago, que tinha apodrecido devido a lesões provocadas pelo inchaço baço.
-Sabes o que estive a fazer nestes dias-perguntaste-me
-Estive a escolher os materiais para o apartamento. Se não for para mim é para a próxima...fica trabalho adiantado Assim, friamente... só por fora, não era?
Uma semana depois de este encontro soube que tinhas ido de urgência para o hospital e, que tinhas perdido a guerra com a doença!
Tinha maus pressentimentos sobre a tua doença, mas sempre acreditei que ias ganhar esta guerra! Quando me deram a notícia, o choque foi o mesmo como se me estivessem a dar a notícia de alguém que tinha tido um acidente e morrido!
Morreste no Carnaval, mas nós levamos a mal! Com 36 anos e tanto para fazer e ver na vida, só pode!
Mas não há volta a dar... a única coisa irreversível da vida...a morte!

Depois desse dia e, antes de voltares para o hospital com mais uma crise, a penúltima, quiseste baptizar os meninos e segundo dizem, disseste:
-Ao menos ao baptizado vou!

Hoje está a decorrer uma campanha de angariação de fundos para ajuda de organizações de investigação e tratamento de doentes com cancro. Mais que nos outros dias me lembro de ti, Amiga. Eles fizeram muito por ti, mas não foi suficiente...o adversário era muito forte!

Até já Amiga...Um dia havemos de nos encontrar... onde, como e quando não sei, mas que é certo, é!

Eles vão casar!

Lembro-me como se fosse hoje do dia em que conheci a Joana: foi há 15, 16 anos em casa do Vítor, onde estávamos a festejar o seu aniversário.
Toda a gente falava no casal Joana-Pedro.
A Joana, uma miúda de 18 anos, muito independente que estudava numa privada e trabalhava no McDonalds em part-time para patrocinar os seus estudos e ajudar os pais.
O Pedro, porque era o menino da mamã, filho único, a quem a mãe limitava as saídas, apesar dos seus quase 30 anos.
Foi essa a razão porque não conheci o Pedro nesse dia: tinha ido com a mãe visitar um familiar. A Joana apareceu mais tarde, porque tinha trabalhado no turno da noite, e por isso chegou por volta das onze horas da noite.
Já todos tínhamos jantado quando ela chegou com o capacete da sua scooter debaixo do braço. Miúda franzina, cabelo pela cinta apanhado em rabo de cavalo. Nem a madeixa vermelha ao longo do cabelo lhe tirava aquele ar de miúda de 17 anos, que tinha na altura! Sempre com um sorriso, que desapareceu por momentos quando o nome do Pedro foi referido e lhe perguntaram o motivo da sua ausência!
Conheci o Pedro mais tarde, já o namoro estava mais avançado, mas com o triângulo: mãe-Pedro-Joana. Naquele dia também chegaram mais tarde, pois a pedido... da mãe, o Pedro tinha ido a Vila Real entregar um bolo a um familiar! Desta vez a Joana foi com ele!
A Joana sempre teve carta branca dos pais para sair com quem quisesse, para onde quisesse e quando quisesse. O Pedro, não, pelo contrário, ou era o fim de semana que tinha de ir para a quinta podar vinhas, levar os pais ao casamento da prima, enfim...era engraçado... a Joana saía com os amigos, divertia-se, com alguns acessos de tristeza quando se falava no Pedro, que estava a apaijar a mãe!

Hoje, ao fim de todos estes anos de turbulência, vieram-nos trazer o convite de casamento. Finalmente!
Espero que sejam muito felizes e que o tanto um como outro saibam lidar com o fantasma 'mãe do Pedro'.
O Pedro que saiba colocá-la à distância de modo a preservar a sua relação com a Joana e que ela consiga ter superioridade suficiente para não se deixar atingir por isso!

Joana, eu compreendo-te perfeitamente! Espero que tenhas consciência do que te espera, pois assim estarás preparada, pois se vais embarcar nisto de uma forma inocente, vias sofrer... e eu não quero que tu sofras, amiga, é muito duro, muito duro, mesmo!

Para os noivos: MUITAS FELICIDADE e encontra-mos no dia 08/08/08...data para não esquecer!

Nota: Assim como me preservo, também gosto de preservar os outros, pelo que os nomes são fictícios.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

O Meu 1º de Maio de 1974

01/05/1974: feriado, passavam 5 dias do 25 de Abril...a euforia ainda era grande...a liberdade ainda não estava digerida. Ainda não se falava de partidos de uma forma aberta, só em grupos restritos. A única bandeira que se via na rua, para além da Portuguesa, é claro, era vermelha... a do partido comunista, mas naquela altura, significava mesmo era LIBERDADE, nada mais!

Praça General Humberto Delgado ( passou a chamar-se assim depois de Abril de 74), aquela hora em que já não é dia, mas ainda não é noite...música, muita música portuguesa; uma roda muito grande de pessoas em frente à câmara do Porto, todos tinha bandeiras, estavam de mãos dadas. Uma rapariga, com uma boina e um militar entram para o meio da roda e começam a circular no seu interior empunhado uma bandeira...

Foi lindo...para mim foi lindo...foi um dos momentos mágicos da minha vida e, na altura não percebi o seu significado, mas para mim a imagem do primeiro de Maio será sempre aquela! Hei-de ser velhinha e ainda lembrar-me!