A minha avó está no hospital... mas amanhã já sai!
Aquilo são 91 anos duros!
Trabalhou em fiações, nunca teve os mimos de agora como as máscaras, o leite e afins que as operárias das fiações agora têm, mas tem os pulmões limpos!
Teve uma falha cardíaca provocada pela troca de medicamentos... é que aos 91 anos não é qualquer coisa que os deita abaixo, mas basta uma pequena coisa para os abanar... nestas idades vergam, mas não partem!
Neste caso bastou o médico passar-lhe a receita de um medicamento de m outro laboratório... são todos iguais, mas não tão iguais assim!
No meio de tudo isto, quem fica afectada é a minha mãe...fica com a 'cabeça em água'!
O início da história:
A minha mãe ligou-lhe na quarta feira para saber dela e achou-a um pouco em baixo, mas como houve subidas acentuadas de temperatura e as pessoas da idade dela ressentem-se destas coisas, apesar de preocupada, não valorizou... comentou comigo, com o meu pai e agendou uma ida a casa dele para quinta feira.
Quinta feira, quando se estava a levantar recebeu uma chamada de uma vizinha a dizer que ela lhe tinha telefonada na véspera para que chamasse os bombeiros, pois estava a sentir-se mal e queria ir ao hospital!
Assim foi, e ficou lá em observações.
O mais engraçado, sim, porque episódios em que a minha avó entre são sempre melodramáticos... ela leva as pessoas aos píncaros de tudo que é emoção: raiva, ódio, amor, riso, triteza...enfim é a minha avó e está dito!
Como ia dizendo, quando a minha mãe chegou ao hospital, foi logo atingida com um:
'O que estás aqui a fazer?' E sem hipótese de resposta um ' Só agora é que vieste?'
Entretanto chegou o médico que foi explicando o que se passava ao mesmo tempo que ia fazendo perguntas sobre o passado e presente dela no que respeita a assuntos clínicos. Admirou-se de ela não ter vestígios de pó nos pulmões, de em toda a vida dela só ter tido uma ou outra maleita e essencialmente de ela viver sozinha.
No fim da conversa, virou-se para a minha avó e disse-lhe que ela tinha de ir para casa da minha mãe, pois não podia ficar mais sozinha. Levou com a resposta de que nunca, que antes queria ir para um lar!
Uma das acompanhantes do médico caiu na asneira de dizer: 'Se não vai a bem, vai a mal'...pois pois, fez mal em dizer aquilo... é que a resposta foi: 'mande na sua vida, que na minha mando eu!'.
A minha avó, apesar do 91 anos, está lúcida, conhece tudo e todos, lembra-se do passado tão bem como do presente, tem telemóvel; mas assumiu que a idade lhe dá o direito de dizer e fazer o que lhe apetece e então acha que pode quebrar regras, passar à frente dos outros e enfim...um osso duro de roer!
Quando o médico abandonou a enfermaria, começou por dar ordens à minha Mãe: para ela ir a casa, fechar janelas, dar de comer ao gato, trazer-lhe o telemóvel, roupa... enfim a mãe da cachopa de 10 anos...da década de 50 do século passado, pois a de agora mandava-a ir ela!
Enquanto isso, ia tirando a máscara para falar e resmungando a propósito de um senhor que estava na enfermaria e não parava de tossir devido ao seu estado de saúde!
Bom, amanhã sai do hospital e vai para casa dela...que havemos de fazer? Deixar andar! O pior é que ela está na 'maior' e a minha mãe a ir-se abaixo com estas coisas arrastando o meu pai com ela!
Eu tento, se calhar egoisticamente, passar ao lado destas coisas. Limito-me a procurar uma explicação para estas coisa e a convencer a minha mãe de que as coisas não são assim tão escuras.
Para a minha mãe cinzento é preto com branco e ela na maioria das vezes só vê o preto!
Para mim a minha Avó está no hospital, mas já sai amanhã...para a minha Mãe a minha Avó está no hospital e só sai, se sair, amanhã!
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