Lembro-me de o meu Pai ter um amigo que um dia resolveu emigrar para os Estados Unidos. Ainda hoje, ao fim de mais de duas décadas lá está, e ainda hoje eles trocam correspondência. No Natal, na Páscoa e mais uma ou duas vezes por ano. E tudo porque entre o escrever, o enviar, o chegar,o ler e retribuir chegam a passar-se meses. Ou porque o correio se atrasa, ou porque num dia se está muito cansado e deixa-se para o dia seguinte responder à carta, ou porque o tempo passa e são precisas datas assinaláveis como o Natal, os aniversários ou a Páscoa para que o querer cumprir com a tradição seja superior à preguiça.
E assim muitas vezes se perdem os contactos, pois ao fim de algum tempo mesmo nestas datas se deixa de trocar correspondência.
Também me lembro de uma época em que o meu Pai não recebia cartas do Alpoim, o amigo dele. Depois de insistir várias vezes, lá recebeu uma carta escrita numa mistura de português com inglês, com uma caligrafia que não a dele, a dizer que o Alpoim tinha sofrido um AVC e estava no hospital. A letra era de uma filha que já escrevia um português pouco perceptível e com umas palavras em inglês pelo meio.
O caricato de tudo isto é que nem um número de telefone existe, só mesmo aquela morada!
Há dias, em arrumações, encontrei um livrinho de endereços de quando andava no secundário. Está cheio de números de telefone... fixos. Números que provavelmente já não existem ou que pertencem a outras pessoas. Eram os números da casa dos pais dos meus amigos, que eu a querer encontrá-los não saberei como. Alguns deles já nem sei que são, confesso. Outros não me lembrava deles, mas logo os recordei.
Se um dia me cruzar com eles em algum lugar, será mais uma pessoa como tantas outras a cruzar-se comigo. Não saberei que são eles.
E lembrei-me eu disto porque hoje um colega de trabalho despediu-se de nós. Vai trabalhar para Angola.
O problema do Alpoim ou dos meus amiguinhos da lista de contactos não vai existir e isto porque há telemóveis e email. Deixou-nos todos esses contactos e estaremos à distância de um teclado sempre: o do computador ou o do telefone.
Bendita Internet e bendito telefone móvel... torna o Mundo tão mais pequeno, pela positiva.
Houvesse Internet e telemóvel há duas décadas atrás e hoje poderia ainda saber se o Gonçalo sempre tirou o curso de arquitectura que ele tanto queria, se o Tomás é engenheiro Informático, ou se a Clara realizou o sonho de ir trabalhar para a PT.
E será que a Paula foi para Paris para que o Moisés, o namorado, estudasse artes? E o Norberto, será piloto de aviões de longo curso? E o Luís tirou veterinária?
Não sei, mas gostava de saber. Gostava de saber que eles realizaram os sonhos deles, que estão bem e são felizes.
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