domingo, 17 de novembro de 2013

Ah, pois...

Sou filha única, neta única por um dos lados da família e sempre tive que viver com a fama que os filhos únicos têm de ser priveligiados.

Acreditem que nunca ouvi da boca dos meus pais ou avós um 'muito bem!'. Assim directo, com as palavras todas NUNCA!

Estas palavras poderiam estar escritas nos olhos deles, nos sorrisos, mas da boca para fora nunca!

Fiquei traumatizada? Não!
Marcou-me isso? Sim, mas até ser trauma, ainda há uma certa distância!

As palavras sempre foram um 'continua', ou 'agora é passar ao passo seguinte', tipo, 'não páres'!

E hoje, com a história das lentes de contacto, concluo que isto não fica pelos pais e pelos avós.
Então vai uma pessoa ao oftalmologista, é confrontada com o diagnóstico de que está pitosga, que tem que usar óculos (coisa que rejeitei até ao momento a fazer, com o argumento de que não precisava). Pedem-se alternativas.
'Lentes de contacto progressivas'. Boa! , penso eu, enquanto a segunda parte vem. 'Mas olha que pode não te dar. Se não te deres nos primeiros instantes, o teu cérebro vai rejeitá-las e não adianta!'. Boa!, volto a pensar.

Chegas ao ensaio das lentes e a técnica diz-te o mesmo, com a agravante: 'Eu não consigo. Está a ver, uso óculos.'. E vão três, penso!
'Vamos lá colocar isso', digo eu.
Coloca a primeira, no olho 'pitosga'. Turvo. Muda de lente. Melhor. Põe lente no outro olho. Bom. Nenhuma diferença. Dá uma volta pela sala. As coisas ficaram 'normais'. Nada de tonturas, turbulência.

'Bem, então vá assim, e se tiver algum problema ligue-me. Entretanto, no fim-de-semana tire-as e deixe a noite toda no estojo.'
'Pois, e  depois?', pergunto.
'Não se preocupe, tem um doutorado em casa!' (o marido que usa lentes vai para três décadas, e há três décadas, as lentes não eram o que são agora!). E faça isso no fim-de-semana que tem dois dias para treinar...

E lá vim eu (in)feliz da vida, a olhar para tudo e para todos, a ver se via alguma diferença.
Em casa, cai uma lente. Primeira aula: 'Dedo indicador para um lado, médio para o outro, pálpebra assim, lente assada... e já lá está a lente no sítio! Ufa! Nem custou muito!

Sábado à noite. Tirar as lentes!
Depois de algumas explicações 'pré-tiragem', a primeira técnica não resultou. Plano B, falhou! Plano C: marido, mesmo com braço imobilizado, em três penadas, tira a primeira lente e diz: 'Vês, é fácil! Tira lá a outra.' Pois, então não tiraste!?. Tirou ele e foi se não quis(emos) que ela lá continuasse mais uns dias.

Domingo de manhã: 'Só ponho as lentes logo.' , digo eu. 'Não pões nada, pões agora!'. Concordei, depois de pensar que por era mais fácil que tirar. E foi, mas não foi fácil, mesmo assim! Uma ainda tentou a fuga, mas o L., lá a parou!

Foram dez minutos. Tinha o Domingo todo! MAs foram dez minutos!
E, depois destes esforços todos, em vez de receber palavras de ânimo, não! Ouve do tipo: Uma criança com doze anos, conseguiu muito melhor. (Era ele, quando começou a usar lentes!). Tens que te habituar!
OH valhamedeus, então depois de ter o Sábado para as tirar, e fazê-lo em meia hora, e o Domingo para as pôr e fazê-lo em dez minutos, ainda ouço destas!

Tá mal!

Bem, agora estão cá, e no próximo fim-de-se,mana há mais.
'Quando foi contigo, a técnica também te pôs as lentes e mandou-te para casa?'
'Não, ensinou-me algumas técnicas para colocá-las e tirá-las e fiz ensaios...', respondeu.
'Ah, pois...'





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