Acordei a meio da noite e lembrei-me que tinha que tomar a vacina do tétano. (prazo Janeiro de 2007!)
Decidi então que iria interromper o meu 'far niente' desta semana de férias e iria, logo pela manhã, ao centro de saúde tomar a vacina.
E assim foi. Levantei-me, fui levar o L. à fábrica, tomei o pequeno-almoço na pastelaria do costume e bora lá ao centro de saúde.
Algumas voltas à procura de estacionamento depois, estava em frente de um balcão, com duas senhoras do outro lado a discutirem o que iriam cozinha na noite de passagem de ano. Sem decisão tomada, uma delas reparou em mim e da boca dela saiu um: 'Diga.'
'Preciso de tomar a vacina do tétano.'
'Adaúfe? Eu só atendo Adaúfe!'
'Bem eu morava em S. Vicente e nunca mudei a morada. Por isso....'
Fui interrompida com um:'Então meta-se no elevador e saia no segundo piso. Lá é que é S. Vicente!'
E, depois de agradecer, não a gentileza, nas a informação, claro; lá me meti no elevador (funcionava!) e saí no segundo piso.
A mesma história. Não falavam de comida, mas de outras coisas, que nada tinha a ver com o trabalho. Depois do 'Diga.', lá desbobinei: 'Estou registada em S. Vicente, a sua colega disse que era aqui e preciso de tomar uma vacina.' Disse-o em modo acelerado para que a mulher não tivesse qualquer hipótese de interromper...
A resposta:' O cartão!'
'Qual, o azul?'-perguntei, enquanto começava a procurar.
'Sim, é esse aí!'-respondeu no momento em que passava por ele.
Pegou no cartão, virou-se para o monitor, digitou o número e, sem olhar para mim, colocou o cartão em cima do balcão, enquanto dizia: 'Não tem médico de família. Tem que ir a Maximinos!'
'Eu ainda não tenho médico de família, treze anos depois de me ter registado?! E não posso tomar uma simples vacina aqui?!'
'Que quer?! Há em Braga 40000 pessoas sem médico de família! Tem que ir a Maximinos. É junto aos bombeiros.'- respondeu-me como dizendo que eu não era mais que as restantes 39999 pessoas e que por isso, tal como elas, só tinha mesmo que ir a Maximino!
E se S. Vicente foi isto, só chegar a Maximinos foi uma epopeia. Lugar para o carro quase do lado oposto da cidade. E quando encontrei lugar e quis (já a contar com o pior) colocar moedas para mais que duas horas, a máquina recusou-se a fazê-lo. E assim lá fui eu, limitada a duas horas, com quinhentos metros de caminho para fazer, mas ainda com esperança de dar um passeio pelo centro (então não!).
À entrada do centro, uma máquina de tirar senhas (senha única). Lá tirei a senha. 'Hora provável de atendimento:10:10.', dizia. Olhei para o relógio da sala:9:56. Olhei para o monitor: 57. Olhei parar a senha:65. No balcão, três postos de atendimento, só com dois a funcionar...
Sentei-me numa cadeira, enquanto esperava. Entretanto chegou o terceiro elemento do atendimento e até que foi rápido.
'Bom-dia, preciso de tomar uma vacina.'
'E não tem médico de família, pois não?'-perguntou.
'Não, a senhora de S. Vicente disse que não.'-respondi.
'Está bem. Entregue este papel ao segurança e aguarde que a chamem.'-respondeu-me depois de me dar para a mão uma folha com o meu nome que foi preenchendo entretanto.
Entreguei o papel ao segurança e fui-lhe perguntando:'Demora muito? É por causa do estacionamento...'
'Não, mas hoje vai demorara mais um bocadinho. Só temos um a enfermeira e temos muitos bebés... mas tem o carro mal estacionado, é?'
'Não, é que só pus moedas até às 11:40 e tenho medo que não cheguem...'-respondi
'Ah, pois, sabe que para estes sítios não se pode vir com o tempo contado...'-disse ele, como quem estava a pensar:'Tivesses metido mais, palerma. Nem sabes como isto é!'
Virei-lhe costas e voltei a sentar-me. às 11:00 fui chamada. Perguntei ao segurança onde era. Lá me disse para entrara na enfermaria 3. Cheguei lá e, afinal havia dois enfermeiros que estavam numa amena cavaqueira. Depois de um 'Bom-dia.', um indicou-me uma cadeira e disse:' Sente-se aí e aguarde um instante que eu já volto.'
11:10 quando o enfermeiro voltou. Entretanto eu ia vendo o meu carro a ser rebocado pela polícia municipal e cento e vinte euros para o levantar na garagem...
'Desculpe lá a espera, mas foi uma urgência. Então que vacina é?'
'É a do tétano.'-respondi, enquanto lhe passava para a mão o boletim.
'Ai que malandra! Tão atrasada! Olhe que o tétano ainda anda por aí! Vamos lá por isto em dia. Tem registo aqui?'
'Não, é a primeira vez que cá venho.'-respondi.
'Então temos que fazer a sua ficha e passar o registo de vacinas para a base de dados.'-e enquanto ia folheando o boletim ia dizendo: 'Mas que bem, tem as vacinas todas! BCG, varíola, hepatite... na sua época não era normal!' (atestado de velha, toma!)
'Pois, mas no sítio de onde eu venho, já nessa época era assim.', enquanto pensava :'Vai chamar velha ao raio que te parta!'
'Mas olhe que nunca vi nenhum registo de alguém com a sua idade com as vacinas todas!'.
Vá lá que entretanto começou a passar a informação para a base de dados e, graças ao FB
Preenchida a base de dados, lá foi buscar a vacina. 'Braço esquerdo, por favor.'
Desci a manga do casaco (tomar vacinas no verão é muito mais fácil!) e pronto dez segundos depois já estava!
Voltei a vestir o casaco, peguei nas minhas coisas e depois de me dizer que tinha escrito a data da próxima toma na frente do boletim. ' É para não esquecer.'-disse. E me alertado que o braço poderia ficar 'preso', mas que era normal, saí disparada da enfermaria, sem antes agradecer e desejar um bom ano ao homem.
Agradeceu-me com um 'muito obrigada' e um sorriso de orelha a orelha, que confirmou a minha desconfiança ao longo daquele tempo: o homem não gostava própriamente de mulheres... (nada contra!).
E assim, para tomar uma vacina, que demora uns simples dez segundos a administrar, despendi duas horas e cinquenta minutos! Isto sem contar o tempo que andei à procura de estacionamento e a ida ao outro posto!
O que vale é que agora só daqui a 10 anos: em 2020.
E é o que temos!
Porque é que de uma vez por todas não podemos optar? Os 11% que dispenso mensalmente do meu salário pagavam bem um seguro de saúde (que também tenho, pudera!) e todas as despesas que já dei ao nossos serviços de saúde!
Sem comentários:
Enviar um comentário