Quando casei, a mobília da minha casa resumia-se à mobília de quarto, a dois sofás na sala e a uma televisão.
Era óptima, fácil de limpar, o pó não tinha onde se esconder e em duas horas a casa ficava arrumada.
As refeições faziam-se na sala, onde a mesa não era mais que o caixote da televisão 'embrulhado' numa toalha de papel. E nunca se deixou de receber os amigos por isso. Pelo contrário, os jantares eram bem divertidos e muito descontraídos. Para os jantares arranjava sempre umas toalhas bem coloridas que combinassem com as toalhas de papel que eu também mudava amiúde.
No Natal, o começo de uma tradição lá de casa, convidei um grupo de amigos para jantar. Éramos seis, à volta do caixote. As cadeiras eram os sofás e muitas vezes comemos sentados no chão, que nem uns chinezinhos.
Escusado será dizer que os miúdos adoravam. Para eles era uma brincadeira, era algo de diferente.
Quando chegou a mesa, a alegria da sua chegada confundia-se com a nostalgia da perda do 'caixote'. A cada passo o 'caixote' era evocado. Havia sempre um episódio para contar sobre um ou outro jantar no 'caixote'. Ou porque um ao tentar por as pernas debaixo 'da mesa' tinha entornado os copos do vinho, ou porque os miúdos fizeram questão de 'comer à mesa' e os adultos tiveram de comer de pratinhos na mão para que suas altezas pudessem 'estar à mesa'. E todos se lembravam da 'cova' que o caixote no seu fim de carreira já apresentava, fruto de levar com muitos pratos, copos e travessas em cima!
Confesso que tenho também algumas saudades do 'caixote' à volta do qual passei bons momentos. Tenho saudades do tempo que passava a 'embrulhá-lo', do cuidado com que escolhia as toalhas de papel, como as combinava com as de pano e a forma como 'acomodava' os pratos, os talheres, os copos e as travessas em cima dele.
O 'caixote' ficará pois para sempre no meu álbum de recordações, como a minha primeira mesa e a mesa que mais da minha imaginação usou.
Como era lindo o caixote!
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