Há uns anos atrás, os meus Pais apanharam o maior susto da vida deles por minha causa.
Estávamos no ano de 1993 e inexplicavelmente, em poucos meses emagreci a olhos vistos. Não sei precisar quantos, pois a minha relação com a balança sempre foi de ódio e por isso o emagrecimento foi medido pela roupa e pela necessidade quase semanal de a ajustar.
Os meus Pais, a minha Mãe porque é uma medricas e o meu Pai porque vive a um passo da hipocondria, insistiram para que consultasse o médico e fizesse análises.
Cedi, o médico de família, ao apanhar-me lá, aproveitou para me obrigar a fazer tudo a que tinha direito e lá fui eu para o laboratório uma manhã inteira fazer análises a tudo, mesmo tudo.
O resultado não foi o melhor. Denunciava anemia!
Nada de grave, segundo o médico, mas assustador para a minha mãe, que logo passou a andar de marcação cerrada na minha alimentação e na medicação, que não passava de umas meras ampolas de ferro.
O compromisso foi o de repetir as análises finda a toma das ampolas.
E repeti. Desta vez foram análises mais especificas e como tal menos morosas. No dia certo a minha Mãe foi levantá-las e mostrá-las ao médico.
O resultado não foi o desejado. A dita 'anemia' continuava. O médico queria que eu fosse ao consultório no dia seguinte.
A minha Mãe estava em pânico, o meu Pai apreensivo. Eu preocupada, mas mais com o baile de gala que seria dentro de uma semana. Ao contrário da minha Mãe, o meu lema foi sempre o de viver um dia de cada vez.
O meu médico de família, o Dr. Fausto, era um homem bem-disposto, habituado às fobias da minha Mãe e sempre a chamá-la à razão para os exageros dela.
Desta vez não foi assim. Olhou para as análises, auscultou-me, apalpou-me o baço, o fígado e disse: 'Não sei o que se passa. Vou-te mandar para o hospital de São João para que sejas vista por uma médica minha amiga de hematologia.'
Passou a carta, telefonou à amiga, explicou-lhe na minha frente o que se passava e ficou combinado que eu iria ao hospital na semana seguinte para lhe mostrar as análises.
Depois de desligar disse-me: ' A Dra Maria José, é especialista em hematologia e vai-te fazer mais exames para descobrir de onde vem essa anemia. É natural que tenhas de fazer um miograma. É doloroso, aviso-te já. Vão-te espetar uma agulhas no osso da bacia para extrair medula e analisar.'
Inexplicavelmente não fiquei com medo, nem nervosa. Algo me dizia que não era nada de especial e que não passava de uma mudança de natureza, a dos sete anos.
Fui ao hospital no dia marcado, fui ter com a médica, ela viu as análises e depois de ver as análises marcou uma consulta para dali a quinze dias. Disse-me que provavelmente aind não teria de fazer o miograma, mas que teria de ir em jejum, pois antes da consulta teria de fazer análises esperar que ela analisasse durante a consulta.
Assim foi. Foram feitas todo o tipo de análises ao sangue. E no final, bem no fim da manhã e isto depois de chegar ao hospital às 8 da manhã, fui chamada para a consulta.
A médica voltou a apalpar-me o baço, o fígado, a zona das axilas e na zona das orelhas. 'Tudo normal.', disse ela. ' Estes parâmetro é que não me convencem, mas não acredito numa anemia simples. Até porque o ferro não fez efeito nenhum.'
Marcou nova consulta para o mês seguinte e fez-me uma medicação.
E assim foi, durante um ano, todos os meses lá ia eu ao hospital, em jejum fazer a colheita e de seguida à consulta.
Os valores das análises~oscilavam entre à volta dos limites inferiores. Entretanto a médica quis que os meus pais fizessem análises para ver se era algum factor hereditário que ali estivesse a interferir. Fizeram e estava tudo bem. Foi quando a minha Mãe se lembrou que a minha Avó, na altura já com oitenta e muitos anos, sempre dizia que as análises dela acusavam 'anemia'. A médica quis um relatório da minha avó. Os resultados eram exactamente os mesmos que os meus. Eu não tinha, e tenho, nada mais que uma característica, a que os hematologistas chamam de 'inversão de fórmula' que é hereditária. O que sempre foi diagnosticado à minha avó como anemia era inversão de fórmula e eu 'herdei-a'.
Sem facilitar a médica quis ainda que eu a consultasse nos dois anos seguinte. No inicio de dois em dois meses, depois de quatro em quatro, meio em meio ano, até ter alta.
O compromisso foi o de fazer análises de meio em meio ano... just in case.
Toda esta história a recordei de uma forma mais nítida quando uma amiga minha há sete anos faleceu com um cancro linfático. Nessa altura comecei a pensar que poderia ter acontecido a mim.
Quando conheci o blogue da Gigi, a recordação voltou, em todos os momentos revia a minha amiga e fiquei feliz, muito feliz por a história da Gigi ter tido um final feliz.
Através da Gigi, sinto que a doença da minha amiga está 'vingada'.
Obrigada Gigi. A Carla também agradece.
E parabéns Gigi, pelo teu 32ª aniversário.
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