Eu e um grupo de amigos
reunimo-nos na passada sexta-feira num jantar de 'boas-vindas' ao A. e à M..
Os meus amigos A. e M. estão de férias em Portugal. Partiram há cerca de um ano para a Noruega em busca de melhor vida. Afinal, o motivo pelo qual os povos sempre migraram: em busca de melhor. Ele é licenciado em engenharia e ela é artista plástica. Vivem na Noruega, numa cidade chamada
Stavanger.
Foram, pelo motivo de sempre: em busca de melhor vida.
Ele foi com contrato de trabalho e ela sem nada definido. entretanto já fez uma exposição, participa como fotógrafa numa revista local e arranjou, dias antes de vir, emprego numa escola privada.
A língua continua a ser a barreira de quem emigra, mesmo com um domínio pleno do inglês pelas duas partes. Eles essencialmente por razões académicas e
profissionais esta língua no dia-a-dia e os noruegueses porque começam a aprender a língua aos três anos, se bem que com pronúncia e vocabulário americano. A Marisa explicou-me que em tempos os americanos instalaram-se na zona para explorações petrolíferas, a maior fonte de riqueza da zona. Como o norueguês não era fácil, surgiu a necessidade dos noruegueses aprenderem a língua. Não sei se esta realidade é a do país todo ou se só da zona. Não lhe perguntei.
Nesta zona há cerca de 40 portugueses que se juntam numa comunidade, onde tem pessoas de mais nacionalidades. Todos são licenciados e quase todos na área das engenharias.
Noruegueses convivem com eles, quando se juntam com pessoas estrangeiras. Apesar de não haver qualquer restrição, não têm um único casal em que os dois sejam noruegueses.
Disseram-me também que este povo não é muito dado a convívios extra laborais com os estrangeiros. No posto de trabalho são extremamente
sociáveis, partilham o que têm com os colegas e só não fazem se não puderem.
Contaram-me que já tiveram situações em que precisaram de ajuda, mesmo sem qualquer afinidade extra laboral, a 'chegada' dos colegas noruegueses foi mais rápida que a dos 'outros'!
Ao falarmos de situações ligadas à saúde ou ao ensino, a imagem que temos é de algo melhor estruturado que o nosso e longe de nós imaginar que haja falhas!
'Não é bem assim.', responderam. No caso dos partos, por exemplo, as mulheres só fazem cesarianas em último caso e os partos são o mais natural possível. As anestesias são limitadas e não aplicadas como aqui, onde as
epidurais, por exemplo, já se tornaram normais nas cesarianas.
Do ensino privado, os Noruegueses não gostam. É sempre a última hipótese e sempre uma situação temporária ter um filho no privado. 'O que nos é dado é sempre melhor do que é pago.', é o que dizem.
C
ontaram-nos ainda que os noruegueses são um povo que naquela zona não é conhecido pela sua rapidez. O seu lema é 'sem
stress'. Gostam de fazer pausas com frequência e em quase todos os lados ( escolas, escritórios) há uma cozinha onde podem fazer chá, café, aquecer comida...
Nos dias de bom tempo, no final do trabalho, que acaba por volta das três da tarde, vão fazer passeios para as montanhas, que ao contrário das nossas, não têm
praticamente árvores. Levam uma mochila com carnes e um fogareiro
descartável para no caminho pararem e fazerem um churrasco.
As casas, quando são grandes são alugadas em partes, ficando o
proprietário a viver numa parte com o
minimo necessário. Obras fazem-nas eles ao máximo, pois contratar mão-de-obra especializada fica na
cass dos 80 euros por hora.
Caros também é ir ao
cabeleireiro, ao restaurante. Em
contrapartida bens de
primeira necessidade têm preços equivalentes aos de cá. Marcas nacionais são a sua
primeira escolha, mesmo sendo mais caro que equivalentes estrangeiras.
Ter carro também pesa bastante no orçamento, já que os seguros são caros.
Comem bacalhau, mas fresco e num prato idêntico ao bacalhau à espanhola.
Depois de há duas décadas ter conhecido uma
outra realidade, a de familiares que vivam na
Alemamha e tinham uma vida de
sobrevivência, fico feliz, por verificar que muito mudou na forma dos
portugueses viverem a 'emigração'. Na realidade vivem e não sobrevivem para poderem mais tarde virem para cá ostentar falsas riquezas.
A formação é diferente, os destinos são outros. Aqui não há a imagem negativa dos portugueses de outros tempos. Estes emigrantes não trouxeram um carrão... vão levar o deles...