No dia em que fui à sessão de autógrafos do Mia Couto, conheci á o Adalberto. O Adalberto é angolano e está em Portugal a fazer um estágio.
Sei que é angolano porque na apresentação do livro colocou algumas perguntas ao escritor e apresentou-se como angolano.
Há até um episódio engraçado entre ele e o Mia Couto, porque ele falou muito baixinho e ninguém ouviu. O Mia Couto, em tom de brincadeira disse-lhe: 'Nem parece Angolano. Há dias numa conferência disseram-me que os moçambicanos falavam baixo e os angolanos tinham um tom de voz mais alto!'
Quando estava na fila a aguardar a minha vez para autografar os meus livros, ouço uma voz que diz: 'É você ou sou eu?', Levantei os olhos do livro que ia lendo e vi que era o Adalberto. Respondi-lhe: 'Não é importante. Tanto faz.'. Reparei que ele fazia um grande esforço para fotografar Mia Couto com a máquina do telemóvel, enquanto suspirava: 'Não estou a conseguir... está muito escuro...'
Eu, acompanhada da minha inseparável máquina, ofereci-me para lhe tirar uma foto: ' Se quiser eu tiro-lhe uma foto enquanto o Mia Couto estiver a autografar o seu livro.'
'Você fazia isso para mim?!', perguntou-me com um sorriso de orelha a orelha e um brilho nos olhos suficiente para iluminar a sala.
'Claro, não custa nada. Depois dá-me o seu endereço de e-mail eu envio-lhe as fotos.'
'Você fazia isso para mim?!', voltou a perguntar...
'Claro, não custa nada...', respondi.
'Toma, está aqui o meu contacto...' e passa-me para a mão um post it, onde rapidamente, mas cuidadosamente, tinha escrito o endereço de email e o número de telefone. E continuou: '... você compreende a letra?'.
Sim, compreendo.', respondi enquanto observava aquelas letras e números quase desenhados de modo a que eu não tivesse dúvidas sobre os noves e os quatros ou sobre os ás ou os dês.
' Estou tão feliz hoje. Consegui falar com o Mia Couto, um dos meus escritores preferidos. Vou ter um autógrafo e agora você vai tirar uma fotografia. É o meu dia de sorte. Obrigado, muito obrigado, mesmo, do fundo do coração.'
E assim foi. Fotografei o Adalberto ao lado de Mia Couto, enquanto este autografava o livro e um pouco mais adiante com o jornalista do JL a entrevistá-lo.
Quando cheguei a casa, tratei de lhe enviar as fotos. Todas elas ficaram bem e por isso enviei-lhas todas.
Passou o fim de semana e não recebi resposta. Não fiquei muito preocupada porque parti do pressuposto que ele era estudante e que só na universidade teria acesso à internet.o que seria hoje, Segunda-feira. Mesmo assim planeei telefonar-lhe amanhã caso hoje não me respondesse... podia não ter recebido e eu não queria ficar em falta!
Não foi preciso. Hoje à tarde quando cheguei a casa tinha a 'cereja do bolo'. Um email do Adalberto a acusar a recepção das fotos e a agradecer mais uma vez.
Não vou escrever aqui o email, mas estava escrito de uma forma muito emotiva que me fez ver que realmente às vezes 'o nada de uns é o tudo de outros'
Adalberto, eu é que agradeço por me fazer sentir tão bem.
Nenhum homem é uma ILHA isolada; cada homem é uma partícula do CONTINENTE, uma parte da TERRA; se um TORRÃO é arrastado para o MAR, a EUROPA fica diminuída, como se fosse um PROMONTÓRIO, como se fosse a CASA dos teus AMIGOS ou a TUA PRÓPRIA; a MORTE de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do GÉNERO HUMANO. E por isso não perguntes por quem os SINOS dobram; eles dobram por TI - John Donne
1 comentário:
Sim, estes momentos tornan-se inesquciveis...
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