E como temos à porta mais um aniversário da Revolução dos cravos, achei por bem nesta rubrica, recordar este post.
Estava sol, não tão quente como hoje, mas estava sol!
O dia começou como os outros: levantei-me, esperei pela minha amiguinha Paula no fundo das escadas do prédio e lá fomos nós para a escola.
Andávamos na segunda classe, sim porque naquela época era segunda classe que se dizia! Nessa época os meninos também iam para a escola sozinhos, esses eram livres, ao contrário de agora!
Bom, mas é daquele dia que estou a falar, na escola tudo normal, deu-se a matéria, fomos para o recreio, e é quando começa o burburinho...os pais a chegarem à escola, a levarem os meninos, as professoras também saírem...estranho, mas que se passa?Essa pergunta foi feita à professora que respondeu:
-Não se passa nada, o que tinha de se passar já passou e agora está tudo bem.
Os pais continuavam a ir buscar os meninos, até que da escola só a minha professorara lá estava com os poucos de nós que restavam. A professora era a mesma de sempre.
Com o argumento de que tinham ouvido no rádio, que algo se passava, por volta do meio-dia, os pais de um menino, do Victor, foram buscá-lo. Nesse momento, não sei porquê senti uma sensação de abandono. O pai da Paula já a tinha ido buscar e eu tinha-me aguentado, mas naquela altura... eu, que até era uma miúda de expressar pouco o que me ia na alma!Esse menino e o irmão ficavam de tarde em casa da D. Guilhermina... mais uma diferença, naquele tempo não havia ATL, havia as 'mestras' e os meninos que não tinham onde ficar porque os pais trabalhavam, iam para lá...eu também ia...e quanto eu gostava!
Então eu levantei-me e disse:-E eu, posso ir embora? Os meninos estão todos a ir e os meus pais não me vêm buscar?!
-Mas eles não têm de te vir buscar, a escola só acaba à uma e tu vais sozinha como o costume!-Respondeu a professora.
-Mas, Senhora professora, eu não posso ir já? O Victor também vai para a Senhora ( era assim que tratávamos a D. Guilhermina)!
-Se quiseres vai, mas não vejo necessidade!
Pronto e eu lá fui com eles, na 4L bordeux, ainda me lembro! Mais apreensiva que assustada. De facto, recordando aquele dia, não estava assustada, mas estava ansiosa por ver os meus pais! Não sei se a minha mãe me foi buscar mais cedo que o habitual ou não, sei sim que esperei uma eternidade com o queixo pousado no portão da casa da Senhora... Enquanto esperava, toda a gente que passava levava jornais e muitos deles liam-nos enquanto caminhavam, com se as notícias se desactualizassem antes de chegarem a casa. Também havia mais gente na rua que o habitual, penso eu! É que a partir de uma certa hora, aquele dia contou para a 'estatística da rotina': mais pessoas que o habitual na rua, os pais a irem buscar os meninos fora de horas, não se estudou, o Sr Chaves ( marido da Senhora) nervoso! Sim esse estava nervoso e esteve pouco tempo connosco na cave!
Às tantas, ao fundo da rua vejo um vulto, que pelo andar seria a minha mãe, sim porque ela também vinha a ler o jornal com umas passadas apressadas! Não é que eu não estivesse habituada a ver a minha mãe ler o jornal, mas na rua?! Estranho! Quando ela se aproximou, abraçou-me com um sorriso de orelha a orelha, sem largar o jornal, claro e eu perguntei-lhe:-Que se passa, mamã?
- Foi uma revolução. Quando chegarmos a casa a mãe explica. Peguei no jornal, era uma edição especial da tarde do JN, com poucas páginas, e na capa tinha uma fotografia de um tanque de guerra com militares em cima muito felizes.Peguei nas minhas coisas e lá fui eu para casa. Naquele dia não houve desenhos animados, era só notícias com imagens de militares, iguais à do jornal! Entretanto chega o meu pai, feliz da vida, esse não trazia o jornal, vinha carregado de jornais! Conhecendo-o como o conheço, nem precisava de ter essa imagem na minha memória, seria assim que o imaginava naquele dia! O telefone estava sempre ocupado, ou era o meu pai a telefonar ou alguém a telefonar-lhe... a campainha também esteve bastante concorrida com amigos nossos a passarem lá por casa! Não sei se me deitei mais cedo ou mais tarde que o habitual... nesta idade o tempo está ligado à ânsia e não ao relógio, quanto muito estaria à televisão, mas como a programação mudou completamente, não sei! Sei que no dia seguinte fui para a escola, e a rotina recomeçou... num país agora livre... os militares tinham-nos dado uma coisa que nós não sabemos, nem nunca soubemos valorizar!
Nem os que nasceram durante o estado novo nem os que nasceram num país livre... esse muito menos... e é por isso que agora os meninos não são livre num país dito livre... eu no fascismo, ia para a escola sozinha... os meninos de agora, não!Afinal onde está a liberdade?
O que é afinal LIBERDADE???????????????
( imagens tiradas da net)
E você, Alberto, para onde foram as suas recordações?
Nenhum homem é uma ILHA isolada; cada homem é uma partícula do CONTINENTE, uma parte da TERRA; se um TORRÃO é arrastado para o MAR, a EUROPA fica diminuída, como se fosse um PROMONTÓRIO, como se fosse a CASA dos teus AMIGOS ou a TUA PRÓPRIA; a MORTE de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do GÉNERO HUMANO. E por isso não perguntes por quem os SINOS dobram; eles dobram por TI - John Donne
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