quinta-feira, 1 de abril de 2010

Quinta, lugares cruzados II (Aeroporto)



O meu primeiro contacto com esta palavra foi aos quatro anos, quando os meus pais decidiram começar a comprar-me os 'livros da Anita' e, na tabacaria do Sr. Júlio, de entre muitos escolhi 'Anita de avião'. E que linda estava, aliás está, pois o livro ainda existe; na capa do livro de vestido vermelho e cabelo apanhado em pose de bailarina em frente de um avião.
Sei, lembro-me, que vim rua abaixo a folhear o livro e nessa noite não me deitei sem que a minha mãe mo lesse de fio a pavio.

Teria ainda quatro anos, ou até cinco, talvez, quando numas férias de Verão a caminho de Lisboa parámos na zona de Coimbra para visitar a 'filha do Sr Nunes'.
A 'filha do sr Nunes', vivia num sítio que eu nunca tinha visto igual. 'É um hangar', respondeu-me o meu pai, quando o questionei sobre que 'casa' era aquela com telhados redondos e cheia de aviões tão pequenos.
Pois, o marido da 'filha do Sr Nunes' era mecânico naquela base e a família viva numa casa junto à base. Ainda estivemos lá um bom bocado a falar com a senhora, pois ela tinha uma história muito recente e interessante para contar aos meus pais. Na altura só percebi que ela e os filhos tinham estado 'presos' dentro de um avião, enquanto uns 'ladrões' levavam um outro. Mais tarde, já depois da revolução dos cravos, percebi o que se tinha passado: um grupo de homens contra o regime tinha invadido a base, tinha prendido a senhora e os filhos e tinha roubado um avião para fugirem para o Brasil.

Até bem tarde, o meu contacto com aeroportos não passou daquelas manhãs de Domingo, em que quando voltávamos da praia, o meu pai fazia desvio pelo aeroporto para irmos ver os aviões aterrarem. Naquele tempo podia-se circular por (quase) todo o aeroporto e eu adorava, do terraço do aeroporto, ver o movimento dos aviões.
Com o passar do tempo e o apertar das normas de segurança, estas incursões pelo aeroporto deixaram de ser possíveis, para minha tristeza…
Quando terminei o meu curso, tive a minha primeira oportunidade de viajar de avião. Uma viagem curta, mas que seria o meu baptismo…
E foi assim, no aeroporto da Portela, que tive a minha primeira experiência com coisas como check-in, boarding, luggage… e não terá sido uma experiência muito real, pois tinhamos um operador a tratar de tudo.
O aeroporto da Portela, cheio, grande, enorme, comparado com o de Pedras Rubras, o único que conhecia à data e de há algumas obras atrás.

Quando chegamos a Las Palmas e o piloto informou que íamos aterrar, procurei, procuramos, o aeroporto. Nada, ou antes, quase nada! A pista confundia-se com a auto-estrada e o edifício era pouco maior que uma estação de comboio, e não falo de uma santa Apolónia, nem de uma Campanhã, sequer, mas sim de um apeadeiro. Sim, digamos que não era um aeroporto, mas sim um 'apeadeiro' para…aviões.

Um par de anos mais tarde, e algumas viagens pela Europa depois, o meu amigo Alberto veio ter comigo ao Porto e fomos passar o ano à Madeira. Estávamos em plena década de 90 e a pista era ainda, a pista de 800 m ( corrija-me Alberto se estou errada quanto ao comprimento da pista). Era Inverno e estava vento e frio. O avião começou a dar voltas à pista numa tentativa de aterrar. Claro que não me apercebi que o avião fazia abordagens à pista e abortava ( a nossa TAP pode ter muitos defeitos, mas lista não faz com toda a certeza, a competência dos pilotos, os melhores…). Depois de aterrar o comandante lá explicou que teve alguma dificuldade em aterrar porque ao flapes não estavam a actuar, devido a problemas de temperatura…
O aeroporto, esse mais uma vez nada tinha a ver com os aeroportos que entretanto conhecera, mas acabava por ter já ar de aeroporto com de tudo um pouco a que um aeroporto tem direito: restaurante, aluguer de viaturas, cafés… e praça de táxis, coisa que em Las Palmas não tinha!
O regresso foi de pouca espera no aeroporto. Foi de noite e o Alberto deixou-nos lá. Esperamos pouco tempo e como foi depois do jantar poucos serviços usamos. A decolagem, essa foi fantástica, das que eu mais gostei de todas que já fiz. Noite cerrada, céu estrelado, o avião em direcção ao mar, a pista a desaparecer e no último instante lança-se no ar… (ok chamem-me louca, mas que foi fantástico, foi).

Voltei à Madeira uns anos depois, já existia a pista nova. Se o edifício do aeroporto foi remodelado, não me lembro. Foi uma viagem muito atribulada, pois estava muito vento e tivemos muito tempo de espera, mas de uma espera em que nada se podia fazer, pois a qualquer momento embarcaríamos e regressaríamos a Lisboa, como veio a acontecer um bom par de horas depois da hora prevista.
E foi nessa noite que tive a minha primeira aventura num aeroporto. O 11 de Setembro era passado recente e os aeroportos eram alvo de segurança muito apertada. Quando chegamos à Portela ( o voo era por Lisboa), a ligação tinha-se perdido e não havia mais voos para o Porto naquela noite. Fomos parar a um hotel, pago pela TAP, depois de passar mais de três horas na fila de reclamações da TAP. Estavam mais de 300 pessoas na fila porque um avião já a caminho dos Estados Unidos tinha voltado para trás sem qualquer justificação e à chegada ao aeroporto só tinha sido dito aos passageiros para recolher a bagagem e dirigirem-se para o balcão de reclamações a fim de marcar novo voo e reservar hotel para aquela noite.

Nós não sabíamos da nossa bagagem.Tivemos ainda que ir procurá-la, onde nos foi dada como primeira resposta que já estava a caminho do Porto. 'Mas como está a caminho do Porto, se ela veio connosco?!', perguntamos. 'Pois é, então deve estar lá em baixo.' Pois o 'lá em baixo', implicou ir para mais uma fila e esperar que, no meio de milhares de malas, a nossa fosse encontrada. A alternativa era um kit de higiene: umas cuecas descartaveis, uma escova dos dentes, uma pasta dos dentes e uma escova do cabelo... tudo tamanho mini!
E optamos por esperar pela mala, por ir mais tarde para o hotel e usarmos a nossa roupinha.

E como esta, voltei mais tarde, a ter uma experiência semelhante. Desta vez foi em Paris, no Charles de Gaulle. Foi a minha primeira passagem por aquele aeroporto e, em trabalho, estava a caminho de Estugarda. Havia um forte nevão em Paris e o avião só teve autorização para sair do Porto muito depois da hora. Quando estávamos a aterra, fomos informados que o nosso voo de ligação estava quase a fechar o boarding e que por isso seríamos os primeiros a sair do avião e teríamos de correr.
Bem corremos, mas nada adiantou. Quando chegamos à porta de embarque, estava um funcionário da Air France a acabar de fechar a porta. Pedi-lhe para que a abrisse... a manga ainda estava ligada. 'Pardon, Madam, mais il est fermée.'. E enquanto abanava a porta, como a a provar que estava mesmo ia dizendo:'Regarde.'.
Bom, mais uma aventura, mais uma fila enorme, desta vez no balcão da Air France, ter de tratar das coisas em francês ( o meu francês naquela época andava um pouco enferrujado) e discussões e aventura semelhante à da Portela para recuperar a bagagem. Esperamos duas horas que a bagagem aparecesse e, ao contrário da TAP que nos mandou de táxi para um hotel quatro de quatro estrelas, a Air France mandou-nos para um hotel, onde o jantar era comida descongelada no micro-ondas; no autocarro que os funcionários do aeroporto usam para ir buscar os seus carros no final do dia!
Foi uma noite atribulada e muito cansativa, mas que mesmo assim ainda deu para diversão. Foi a noite da Soraia!

Durante um longo período de tempo tive de fazer viagens mensais para Paris. Sim, Paris... para além do aeroporto, o de Orly, estive no centro de Paris uma vez!
Neste aeroporto tive algumas aventuras engraçadas, que começou logo na primeira viagem, quando estava a entregar o voucher do carro de aluguer na locatária e aparece um 'armário' fardado e de metralhadora em punho e me começa a empurrar, a mim e às outras pessoa, enquanto polícias vedam a zona.
Já fora do aeroporto, e na fila, enorme, dos táxis, pergunto ao arrumador o que passava lá dentro, a resposta foi: 'Une valise oublier et pumm!', enquanto levantava os braços em arco...
Não foi a única vez que aconteceu. De uma outra, foi no regresso para o Porto. Tinha ido jantar ao restaurante que fica na outra ponto do aeroporto e quando regressava estavam a vedar a zona. Pedi para passa, mas não deixaram. Reclamei e disse que a minha bagagem já estava no porão e que se eu não fosse iam atrasar tudo. A resposta, acompanhada de um encolher de ombros foi:'Cést la vie... pas passer!'
E a parte caricata vem agora, e à custa disso fiquei a saber que os tectos dos aeroportos são muito resistentes. Tentamos ( eu estava com um colega de trabalho) sair pela porta mais próxima, para passar pela parte de fora do aeroporto... nada tinha militares. Tentamos passar pela parte traseira das lojas... encontramos o primeiro militar que nos barrou a passagem, que me deitou um olhar que quase me tombava para o lado, como que a dizer: 'És teimosa. Eu já não disse que...'.
Lembramo-nos de descer as escadas e ir pelo andar de baixo... vedado! Quando olhamos para a escada que dava para o andar de cima, essa não tinha fita e, nas barbas dos militares, subimos, passamos e descemos na próximo da sala de embarque. 'Pas problem!'.
E foi por pouco que não ficamos em terra!

Haveria outras histórias engraçadas para contar, como a dos croissants que trazia na mala e a funcionária que estava a verificar a bagagem, quis abrir a mala, porque não sabia o que era aquilo. Quando viu os croissants, comeu-os com os olhos, depois de dizer: 'Sont croissants!'

E a vez em que estava a tomar café no aeroporto de Frankfurt e um amigo meu estava a falar muito alto e muito mal. Mandei-o ter cuidado e a resposta foi que ninguém percebia. Mudou de ideias no minuto seguinte, quando toca um telemóvel e alguém atende em bom português!

Eu gosto de viajar de avião, gosto do movimento dos aeroportos, gosto de ver, e de, correr. Tenho sempre a sensação de que estou num rally papper à procura do enigma, neste caso da porta de embarque.

No único aeroporto em que isso não aconteceu foi no de Basileia. Um funcionário do aeroporto leva-nos até à sala de embarque, avisa-nos do aproximar da hora e andam outros funcionários a rodar pelas salas, ora a servir bebidas e bolos, ora a oferecer revistas dos mais variados temas. Revistas dentro do prazo, não revistas do mês ou semana anterior...

E foi minha a ideia de falar deste tema, porque estou cheiínha de saudades deste frenesim todo que este ambiente nos provoca.
Não vejo a hora de viajar para Barcelona... andar de avião e conhecer mais um aeroporto... e palpita-me que vai haver aventura.
Como diz uma amiga minha:'Viagem para ti sem aventura, não é viagem!'
Mas não tem mal, porque, e como diz o meu amigo Victor, meu companheiro de muitas viagens:' Ir contigo é seguro. Acaba sempre tudo bem e não há monotonia.!

E você Alberto, por que aeroportos anda você?
Adenda: O aeroporto da Madeira ttinha 1800 m e passou para 2800m. Correcção pedida, correcção feita.


3 comentários:

Alberto Velez Grilo disse...

O aeroporto da Madeira é mesmos especial.

Achei piada porque tive que fazer um esforço para me lembrar da sua segunda vinda à Madeira. Vá-se lá sabes porquê.

Barcelona vai correr tudo bem. Mas não se esqueças que vais estar a voar para Girona, um aeroporto "lowcost". Eu não conheço.

Beijinhos e boas viagens.

Reflexos disse...

Sim, vá-se lá saber porquê...
O ser humano é assim memso... memória selectiva...
Bjinhos

estouparaaquivirada disse...

Eu também fui muitas vezes para a varanda do Aeroporto ver os aviões!
Adorava! Voltava para casa a sonhar...