... apeteceu-me o impossível: comer iscas de bacalhau ( conhecida por pataniscas por alguns) feitas pelo meu Avô Reis.
Estou a vê-lo, com a paciência que só ele tinha, a desfiar meticulosamente o bacalhau, a misturar a farinha com a água... e em frente do fogão a colocar, como que pesadas em balança de ourives, iguais quantidades de massa na sertã (frigideira!).
A tirar as tiras do bacalhau de dentro da taça para onde as desfiou, a colocá-las de um dos lados da massa e, com a ajuda de dois garfos a dobrar as iscas.
Depois de fritas, bem tostadinhas, a pô-las todas alinhadas na travessa, que antes tinha forrado com o papel do cartucho da mercearia. (Lembram-se dos cartuchos cinzentos com a risca vermelha?).
A avó entretanto tinha preparado o arroz malandro (fresco) de feijão e... o que quer que eu coma hoje não me saberá tão bem como me saberiam estas iscas com este arroz, comidos sentada entre o Avô e a Avó, na casa dos avós a falar de constelações, baías, continentes, ilhas e... istmos, até!
Definitivamente à medida que a idade avança, cada vez são mais as coisas que não podemos ter de volta. Restam as recordações que devemos viver com um sorriso nos lábios( como estou agora) e não com a lágrima ao canto do olho... afinal foram tempos felizes, lindos... a nossa herança do passado. Como disse um dia Neruda: se recordo o passo, é porque vivi!
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