Amigas e colegas de trabalho, tinham sido destacadas pelo chefe para uma formação na Alemanha. Estavam felizes, até porque havia vários candidatos à dita formação e elas, por motivos que ainda desconheciam, haviam sido seleccionadas!
É evidente que se fosse pelo desempenho e competência era uma selecção merecida, mas nos tempos que correm e na selva em que vivemos, outros factores mais alto falam...
Fim de manhã de Segunda-feira, aeroporto Sá Carneiro, voo da Air France. Uma manhã de fim de Novembro, fria e chuvosa. Neve e temperaturas negativas as esperavam em Stuttgart, mas nada a que elas já não estivessem habituadas das muitas viagens feitas ao serviço da empresa. O que era mesmo novidade era o voo ser da Air France. O normal era voarem na Air Berlim ou na Lufthansa, mas por uma questão de meia dúzia de euros, a escolha tinha sido esta companhia.
O voo saiu com atraso do Porto. Havia neve em Paris e por isso não havia autorização para aterrar no Charles de Gaulle.
Foi o motivo da primeira preocupação das duas amigas, pois o tempo de espera para o voo para a Alemanhã, não era tanto quanto isso, para além de, sendo um aeroporto novo para elas, não saberem a distancia entre o local de desembarque e embarque.
O pior aconteceu, ou antes estava para acontecer, quando estavam a aterrar em Paris. Ouvem da voz do comandante: 'Os passageiros com destino a Stuttgart é favor saírem primeiro. O voo de ligação aguarda-os e está prestes a sair.'
Assim foi, elas e mais um grupo de pessoas, mal puderam, saíram do avião e em altas correrias pelo aeroporto fora, começaram a procurar a porta de embarque. No 'boarding' foram interceptadas pelos guardas que as obrigaram, a elas e aos outros, atirar botas, casacos, cintos, ligar computadores... enfim, demorar uma eternidade...o suficiente para chegarem à porta de embarque e encontrarem o funcionário da companhia de aviação a acabar de fechar a porta de acesso à manga!
Pediram para embarcar, mas a resposta foi: 'Madama il est fermé!'.
Começa aqui a grande aventura. Mandam-nas a elas e Às restantes pessoas para o balcão de reclamações da Air France, onde estava uma fila de mais de cem pessoas. Paris estava o caos. A pista estava coberta, assim como a cidade, estava coberta com um manto de neve, o que atrasava as chegadas e partidas, pois a pista tinha de ser limpa com bastante frequência...
Na fila conheceram uma rapariga que tinha vindo com elas do Porto e que também ia para Stuttgart. Chamava-se Elisabete, viva em Stuttgart e tinha vindo a Portugal ao funeral do pai. .
Dois homens, que também vinham no avião, estavam também a caminho de Stuttgart. Iam à Mercedes, comprar carros. Homens simples, não falavam mais nada para além do Português. Ao aperceberem-se de que s raparigas falavam Inglês e Cristina Francês, logo um disse para o outro: Ó Vieira, vamos atrás delas. Elas vão para o mesmo sítio e o que elas fizerem nós fazemos!'.
Quando foram atendidas, a funcionária do aeroporto limitou-se a dar a cada um dos cinco um voucher para uma noite num hotel , com jantar, pequeno-almoço e transporte de e para o aeroporto.
Os homens e a rapariga, que só tinham bagagem de mão, seguiram de imediato para o hotel.
No balcão, a primeira resposta foi de que a bagagem tinha ido o avião para Stuttgart e tentaram passar-lhe para as mãos um kit de higiene pessoal.
As duas raparigas não acreditaram, pois a bagagem não tinha tido tempo de ser transferida...
A segunda resposta foi de que ia demorar muito tempo até que a bagagem fosse encontrada, pois andava a circular nos tapetes.
Mais um argumento que não serviu. 'Temos a noite toda para esperar! Afinal só temos voo amanhã de manhã!'
Contrariadas, as funcionárias lá deram início ao processo de resgate da bagagem, enquanto iam 'despacando' os outros passageiros com o kit de higiene. Ficaram as duas amigas e três Italianos...
Ao fim de duas horas a bagagem apareceu. Eram já quase onze horas da noite e a fome apertava. Entretanto foi preciso informar o hotel na Alemanha de que não iam naquele dia e o pior e tudo é que iam perder o início da formação...
O pior, ou antes, mais aventura estava para ir. Foram para o terminal dos autocarros do aeroporto. Todas as carrinhas que passavam, elas mandaram parar, e de todas ouviram a resposta de que aquele voucher não era para elas!Que se passava, então? A funcionária do aeroporto disse que fossem nas carrinhas?! Resolveram perguntar a m funcionário do aeroporto que aguardava um transporte. O voucher era para o autocarro do aeroporto, o autocarro que transporta os funcionários do aeroporto até a parque de estacionamento! O hotel era o Ibis e fiava entre o parque e o aeroporto. Assim foi. Entraram o mesmo autocarro que os funcionários do aeroporto. Ia cheio, quase tiveram que levar as malas no ar, tal era o aperto!
Para ajudar a paragem ficava a cerca de 50 metros da entrada do hotel e a temperatura já começava, se já não estava, negativa!
No hotel, depararam-se com a maior fila de check in que algumas vez imaginaram poder ver num hotel. Seguramente cinquenta pessoas à sua frente...
O desespero e o cansaço das duas amigas, já as começava a deixar irritadas e um pouco revoltadas. Sentiam-se enganadas e maltratadas. O embarque, a fila das reclamações, o resgate das malas, o transporte e agora o check in. Delas também começava a assaltar-lhes o receio de não terem quartos, tal era o tamanho da fila!
Quando chegou a vez delas, ainda havia quartos, para onde elas correram, mal se apanharam com as chaves na mão. O dia já ia longo, mas muito ainda as esperava. Começava por uma fila enorme de gente no restaurante, onde só viam frigoríficos, maquinas de café e mesas. Pois, tinham de escolher um prato, congelado, de cada um dos balcões, levar à caixa, onde tinha uma fila, entregar o voucher e aguardar que um funcionário descongelasse num micro-ondas!
No meio daquilo tudo, já era mal menor. Iam jantar, tomar um café e dormir!
Assim foi, jantaram e foram até à recepção, onde estavam os dois homens e a rapariga. Entretanto tinha-se juntado a eles uma segunda rapariga, de nome Soraia, que tinham conhecido na fila do check in. Soraia era a primeira vez que viajava e estava a caminho dos Estados Unidos para se encontrar com o namorado. Estava sem dinheiro, não tinha telemóvel e o cartão que a Air France lhe havia dado para telefonar havia sido danificado pelo telefone do hotel!
Sentaram-se, então os seis um bocado na recepção do hotel, enquanto Raquel e Cristina contavam as suas aventuras com a bagagem. Enquanto a conversa decorria, toca o telefone de um dos homens. Ele olha para o número e não o reconhecendo, entrega o telefone a Soraia, enquanto lhe diz: 'Deve ser para si'. Ele tinha disponibilizado o telemóvel à rapariga para que ela avisasse a família. Como ninguém havia atendido, ele achou que estavam a ligar de volta...
É quando se ouve: 'Eu sou a Soraia. Ah, pois não conhece nenhuma Soraia...' A rapariga entrega o telefone ao homem e diz:'Não é para mim...'. O homem atende , reconhece a voz e diz: 'Ó Manel, é para ti, é a tua esposa!'
O segundo homem, o Manel, fica vermelho, começa a tremer e diz:'Tu lixaste-me! O que lhe digo agora?'
'Atende lá o telefone.', diz o amigo.
O homem a medo pega no telefone e, com a voz a tremer, diz: 'Está. Ah és tu filha! A mão? Está a tomar banho? Está bem. Nós estamos em Paris. Perdemos o avião. Olha não digas nada à mãe deste telefonema. O Pai vai levar-te o carro. Levo-te um Mercedes Classe A, está bem?' Sim beijinhos'
O homem desliga o telefone, já com todos a rirem à gargalhada com o sucedido e a sua atrapalhação e ele só diz:
´Como vou explicar à minha mulher, que fui à Alemanha comprar um carro, que passai uma noite em Paris e que o telefonema de casa foi atendido por uma mulher?!
A gargalhada foi geral. O homem continuou:´ Ó Vieira, tens de me ajudar a explicar à minha mulher o que aconteceu!'
Todos pararam de rir. O assunto era sério! Afinal é uma história difícil de acreditar!
1 comentário:
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