segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Avó, Tens uma Carta pa Ti



Eu ainda não consegui realizar, que aquela força da natureza, como eu te chamava, já não calcorreia as ruas do Porto de lés a lés, que já não vai ao supermercado e compra de uma assentada 25 kg de batatas, que..., que... e que está ali fechada!
Confesso, neste momento uma lágrima cai-me do canto do olho, lágrimas que não consegui deitar no dia do teu funeral... para mim não era eras tu quem ali estava, era alguém, não era a mulher que me ajudou a nascer, a mulher que me cortou o cordão umbilical, a mulher que, com toda a sua força, as ultimas palavras que me disse foi: Tu és igual a mim', enquanto batia com a mão no peito!

Pois avó, eu sou igual a ti! Tu gostavas de ser livre, independente... como me custa usar o passado para falar de ti... tu não eras pássaro de gaiola e, quando te sentiste engaiolada, de um dia para o outro, ainda lutaste, mas perdeste esta batalha!

E porque somos iguais, nunca conseguimos dizer uma à outra o que sentíamos... para quê? Era tão forte, que não precisava de palavras... corria-nos no sangue!

Se estivesse a escrever numa folha de papel, certamente ninguém poderia ler... agora as lágrimas caem-me sem pedir licença!

Não te vou pedir desculpa por nada, apesar de saber que fiz, aliás, fizemos coisas mal feitas com a nossa relação, mas das muitas coisa que me ensinaste 'Desculpas não se pedem, evitam-se'.
Também não vou dizer que eras uma santa... ninguém o é, o bem e o mal está em todos nós... por isso o teu e o meu também, mas conseguíamos vê-lo sem dúvidas... não usavas disfarces... e aí é que está a diferença: Não no ser bom ou mau, mas sim honesto com as pessoas, com os sentimentos e com nós próprios e, isso, tu sabias fazer bem, tão bem, que não te deixou viver a vida que tu não querias: amarrada a uma cama!

Adoro-te!

2 comentários:

Anónimo disse...

Obrigada mais uma vez pela partilha essencial de uma avó que continua viva e presente; por contar em poucas palavras uma vida tão inspirada e inspiradora; por revelar uma maneira de ser tão alegre, incisiva, nobre e profunda. Também me comoveu. Etambém me fez recordar a minha avó Laurinda e a minha avó Vitória. Obrigada por tudo e tanto.

Anónimo disse...

Como é bom chorar, o que não consegui chorar quando a minha avó partiu, como gostava que estivesse aqui para os meus filhos a verem pq sei que ela onde quer que está os conhece bem. Obrigada. Continue a escrever.