quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Victor, Puto Reguila


Estava eu a jantar e a olhar para as tigelas da marmelada, que estão em cima da mesa a secar.
Lembrei-me, então, de uma história que o meu pai conta muitas vezes e mostra o quanto nos dias de hoje nos podemos dar por felizes!

Os meus avós paternos sempre foram pessoas de parar pouco tempo no mesmo sitio: viveram na Foz, em Campanhã, no Freixo, enfim andaram pela cidade toda ao ritmo que iam arranjando emprego. Ele como jardineiro e feitor e ela como cozinheira e governanta, mais tarde.

Um dos sítios onde eles viveram, foi na quinta da Concórdia, a fábrica das Farinhas Harmonia, nas margens do Douro, logo a seguir ao Palácio do Freixo.

Durante um bom par de anos viveria lá na casa do feitor. Lá também viviam os donos da quinta, a família Lage. Essa família tinha um filho da idade do meu pai, mas que, como menino rico da época, era super protegido e, então quando fazia algo fora do habitual, as coisas corriam mal!

Pois, foi o que aconteceu num desses dias. Estava ele, o meu pai e o meu tio no pátio a brincarem quando a empregada lhe veio trazer o lanche: Pão com marmelada!

O meu pai olha para o pão e pensa: 'Afinal isto é que é marmelada! Foi a minha mãe que fez e eu não como?!' Miúdo reguila da época, olha para um muro que tinha sido derrubado por um camião da farinha e, virando-se para o Luizinho:

- Ó Luizinho, vamos brincar para ali?
- Não me apetece.-Responde o Luizinho com ar de enjoado, enquanto vai comendo o pão como se estivesse a fazer um frete.
- Não queres vir, porque não consegues andar em cima dele direito… não te seguras!
- Seguro pois, só que não me apetece…
E lá continuaram naquela lenga lenga, até que o outro se convenceu que tinha de provar ao meu pai que era capaz. Salta para cima do muro e ao primeiro passo acontece o que o reguila do Victor queria: o Luizinho desequilibra-se, cai abaixo do muro, ele para um lado, o pão para o outro e, quando olha para os joelhos a sangrar, desata aos berros e vai a correr para dentro de casa a chamar pela mãe.

E o Victor? Esse, que nunca havia perdido de vista o pão com a marmelada, corre para o apanhar, senta-se na beira do muro e… foi um lanche e peras!

Sem comentários: