Tampinhas para a Gabriela.

Email recebido, algures no mês de Julho, com o título: 'Ajudem a Gabriela':

A Gabriela é uma menina com nove anos, que tem paralisia cerebral. Esta doença obriga-a a usar uma cadeira de rodas especial. Para isso precisa juntar 4 toneladas de tampas de garrafas para trocar pela dita cadeira.


Este email foi enviado por uma amiga, a Ro, a quem de imediato perguntei se conhecia a menina. Disse-me que não, que era fila de uma amiga da madrinha da filha dela.
Assim como eu, vários colegas receberam o email e de imediato foi criada uma corrente de recolha de tampinhas: as secretárias dos diferentes departamentos colocaram caixas em pontos de passagem para que pudessemos colocar as tampas, as pessoas passaram a juntar as tampas em casa e a levá-las para o escritório para entregar à Ro.... enfim, uma corrente de solidariedade para com alguém que no fundo não se conhece!

De toda esta campanha, há alguns episódios que mostram o quanto é grande o coração do ser humano, mesmo o de uma criança:
-Várias colegas contaram-me que, depois de terem passado a mensagem aos filhos, e estou a falar de crianças de 7, 8 anos; elas passaram a trazer de volta para casa a tampinha dos iogurtes e das garrafas da água.... alguns deram-se ao 'trabalho' de apanhar do chão as tampinhas que iam encontrado pelo caminho. Aqui, e compreensivelmente, tiveram de ser advertidos para não o fazerem, pois não se sabe por onde andaram as tampas... e as crianças não são propriamente cuidadosas com a lavagem das mãos...
-Nas escolas, as professaras também fizeram arranjaram um sítio para juntar as tampinhas...
-Todos (quase todos) pedirmos aos nossos familiares que juntassem tampinhas. No meu caso pedi aos meus pais. O resultado tem sido fantástico: todas as semanas levo pelo menos 2 garrafões da água cheios de tampas. Aqui foi criada mais uma corrente: a minha mãe pediu numa pastelaria conhecida dela que lhe juntassem as tampas... a empregada instruiu a da limpeza para que o fizesse, que por sua vez pediu às colegas de outros cafés....
Felizmente os meus pais não são caso único e, então há dias que se junta um saco do lixo de 150 litros de tampinhas!

Já viram onde vai a corrente? Por exemplo o meu caso:
A Gabriela. a amiga da mãe, a minha amiga, eu, a minha mãe, a dona da pastelaria, a empregada, a empregada da limpeza, as empregadas de outros cafés... nove pessoas... das quais só uma conhece a Gabriela!

Isto faz-me lembrar, e porque é Natal, uma das minhas actuações nas festas de Natal da escola, sim porque durante os meus primeiros anos de escola tive uma vida artística muito intensa... era presença habitual nas peças de teatro da escola!

Bom, como ia dizendo, houve um anos em que tínhamos de apresentar a lenga-lenga da formiga e da neve. Foi há muitos anos, muitos mesmo, e já não nem lembro com exactidão do texto, mas era algo assim:


Tudo começa com a formiga (eu era a formiga) que fica com o pé enterrado na neve e então a formiga pergunta:
Ó Neve, porque és tão forte que prendes o meu pé?
Neve: oh Formiga, mais forte que eu é o Sol que me derrete!
Formiga: ó sol, porque és tão forte, que derretes a neve que prende o meu pé?
Sol: Ó Formiga, mais forte que eu é o muro que me faz sombra...
Formiga: ó Muro, porque és tão forte que fazes sombra ao sol que derrete a neve que prende o meu pé?
Muro: mais forte que eu....
... e a lenga lenga continua, se que a formiga consiga arranjar quem lhe tire o pé da neve.

Este texto ficou para sempre na minha memória, não só pelo facto de depois o representar na festinha de Natal, mas porque me lembro perfeitamente que uma das lições que tiramos daqui é de que há sempre alguém que precisa de nós e nós precisamos, também, dos outros...

No caso da Gabriela: ela precisa de nós, da nossa solidariedade para ter uma cadeira, mas nós também precisamos dela... não acham?

A propósito: No início de Outubro, a Gabriela já tinha 2,5 toneladas de tampinhas!


( História, ou não, para a fábrica de histórias)